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06 abril 2012

Inês

Capítulo I
1ªParte

         _Eu conheci o Diogo, quando era ainda uma adolescente_ e sorrio ao relembrar-me de um eu com 16 anos, vagueando pelos corredores da secundário, com calças a boca de sino, cabelo volumoso com grandes caracóis rebeldes de um amendoado sedoso que combinam na perfeição com meus grandes olhos castanhos_ ele era…_ como é que o vou descrever? Perfeito? Para mim era, mesmo quando o vi todo desengonçado e tímido_ engraçado, eu reparei nele, mas sabes como eu sou. Não disse nada. Fingi que não o vi, mas como era o primeiro dia de aulas a professora nos mandou juntar em grupos de 3. Fiquei com a minha amiga, a única que conhecia do ano anterior, visto que este ano nos recambiaram as duas para aquela turma nova onde as raparigas nos olhavam de alto abaixo, e pedi-lhe para chamar o rapaz tímido e cabisbaixo que não parecia ainda ter grupo, tal como nós, o grupo dos excluídos portanto. A estranheza desse rapaz intrigou-me… E com o passar do tempo fomos nos aproximando. Todos os dias tínhamos aulas juntos, primeiro dia sim dia não. Começamos a falar por causa do trabalho de grupo, depois porque eramos totalmente diferentes ou talvez demasiado iguais, passávamos o tempo a discordar, a rir e a teimar. Já não era só nos dias dessa aula que nos juntávamos, eram nas aulas de matemática, eram nas aulas de química, enfim… Só não nos víamos ou discutíamos mesmo aos fins-de-semana.
_ Mas não foi amor a primeira vista?
_ Não meu amor. _ e ao ver o seu sorriso a esmorecer rematei_ Não, foi bem melhor. Foi um amor diferente, verdadeiro. Porque antes de gostar de tudo o que o teu pai tinha de bom, eu já amava todos os seus defeitos.
De novo o seu sorriso desdentado se abriu de par em par. E o meu seguia atrás, eu sempre adorei o sorriso das crianças, mas a Íris tinha os olhos amendoados e as bochechas redondas, o cabelo como o meu, o nariz dele, a moldura perfeita para aquele sorriso, genuíno, feliz. Tanta coisa no mundo, tanta coisa para se estar triste, tanta coisa para nos lamentarmos, mas para ela, tudo era simples, tudo era fácil… E eu vou mante-lo assim o mais que possa. E enquanto me perco, nos meus devaneios, ela prossegue.
_Mãe?! Mãe, estas outra vez a dormir? Nunca tomas atenção, tens de te concentrar! Os teus professores não ralham contigo quando te distrais?
_Claro amor, desculpa!_ tento dizer no tom mais sério que consigo_ Então? O que é que querias saber mais?
_O pai era teu namorado?



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