"A dor que que a minha alma sente,
Não na sabe toda a gente.
Que estranho caso de Amor!
Que desejado tormento!
Que venho a ser avarento
Das dores de minha dor!
Se se sabe, ou se se sente,
Não na digo a toda a gente.
Minha dor e causa dela
De ninguém ouso fiar;
Que seria aventurar
A perder-me ou a perdê-la.
E pois só com padecê-la,
A minha alma está contente,
Não quero que o saiba a gente.
Ande no peito escondida,
Dentro na alma sepultada;
De mi só seja chorada,
De ninguém seja sentida.
Ou me mate ou me dê vida,
Ou viva triste ou contente,
Não ma saiba toda a gente."
Redondilhas
Luís de Camões
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