18 junho 2012
Caminhar de Saltos Altos
A vida já me fez cair muito, magoei-me muitas vezes, parece que caminhei sempre com saltos agulha de 15cm de altura por calçadas como as de Évora, com pedras irregulares cheias de bicos e buracos. Ai, ai... já cai, e rapei os joelhos, já cai torci apenas os tornozelos, já pensei que ia cair mas consegui equilibrar-me meeesmo a tempo. Muitas destas vezes não foi culpa das pedras que se alinharam propositadamente para me dificultar a vida, elas já la estavam, elas sempre lá estiveram eu é que me atrevi a pisá-las, eu é que me distraio a cantar no meio da rua oblivia com os meus phones nos ouvidos e por momentos penso que o mundo é meu e me obedece.
Os meus tornozelos já estão doridos de tanto tropeção, mas ao mesmo tempo calejados. a minha cara, essa é que continua a mesma sempre que as pernas me falham, o chão me foge, surpresa e parva.
Apesar de todas as mazelas e figuras que possa ter ou fazer, não há salto que não domine em qualquer rua de Lisboa, onde os passeios são largos, e confortáveis, lisos e sossegados.
Mas, e todas aquelas que não caminharam em calçadas difíceis, o andar delas é tão confiante como o meu ao longo destes nossos passeios, como será que vão reagir quando encontrarem esses caminhos menos previsíveis. Certo a queda delas será a mesma que já sofri, mas ao menos eu sabia com o que contar, elas continuam com o seu passo compassado sem hesitar, sem prever ou temer as estradas que se atrevem a percorrer. Certo que já sei e conheço estas estradas porque desde sempre as percorri, mas... tenho pena, tenho pena porque sei como vai doer, não só esta dor que se vê, aquele dor que se sente, se sente e por isso é mais real que todas as outras, a dor da perda, da inocência, a dor do conhecimento.
Poderemos ajudá-las? A minha vontade é salvá-las.
Mas acreditaram elas nos nossos presságios intangíveis, ou receberão o nosso conhecimento como invejosos e mesquinhos?!
Seja qual for o resultado, acho que tenho de partilhar o conhecimento, porque não tenho maneira de controlar como os outros reagem as minhas opiniões, só posso controlar como a minha consciência apreende as minhas decisões.
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